"Dizia minha avó que quando uma mulher sente tristeza deve entrançar o cabelo. Assim a dor ficará presa nos cabelos e não chegará ao resto do corpo. Deve-se ter cuidado para que a tristeza não se meta nos olhos pois os fará chorar, tão pouco é bom deixar a tristeza entrar em nossos lábios, pois os obrigá a dizer coisas que não devem, que não entrasse nas mãos, me dizia…Porque poderia deixar queimar o café ou deixar crua a massa. É que a tristeza gosta de sabores amargos. Quando te sentires triste menina, entrança os cabelos, aprisiona a dor e deixe-a escapar quando o vento do norte soprar com força.
Nosso cabelo é uma rede capaz de prender tudo, é forte como as raízes do Carvalho e suave como a espuma do mar.
Não te apegues a melancolia menina! Ainda que tenhas o coração partido por alguma ausência.
Não a deixes se misturar nos cabelos soltos, porque fluirá como uma cascata pelos canais que a lua traçou no teu corpo. Entrança a tristeza, dizia, sempre…entrança a tristeza.
E na manhã ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a tristeza pálida e desvanecida entre o trançar dos teus cabelos…”
Lenda Indígena - Registo da antropóloga Paola Klug
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